A política brasileira está de pernas para o ar. O presidente Lula chegou da sua viagem ao exterior prometendo que, aqui, iria se inteirar do que estaria por trás da CPI da Petrobras, e que não falaria da questão antes de conversar com seus aliados, para ter uma exata posição sobre os acontecimentos que a sua viagem à Arábia Saudita, China e Turquia não permitiu que conhecesse todos os desdobramentos.
Claro que não é bem assim.
Em qualquer lugar do planeta é possível se saber o que acontece no seu lado oposto, diante das comunicações instantâneas, porque o “mundo é plano”, como rotulou Thomas Friedman no seu festejado livro, no qual oferece uma nova visão planetária a partir das ferramentas que a tecnologia colocou à disposição do homem.
Assim, seguramente o presidente estava “ligado” nos acontecimentos do Congresso Nacional, ainda mais quando o centro das atenções era a Petrobras, estatal que estava em grande parte da sua agenda, na medida em que buscava financiamentos ou parceiros para a extração do óleo da camada pré-sal, no litoral brasileiro.
Aqui, tomou “oficialmente” conhecimento de que o PMDB tentava barganhar uma diretoria da estatal e outros cargos (para compensar perdas, como na Infraero) oferecendo, em retribuição, apoio na CPI.
Daqui para frente, quem barganha tem muito o que fazer. O campo está aberto porque a sucessão se aproxima. E a política quando está de pernas para o ar funciona, como se sabe, no toma lá, dê cá. Nenhuma novidade.
O PMDB é partido experiente e entende exatamente como em política se raciocina: o poder é para ser dividido, é para ser negociado.
Mas tudo tem um limite. Só que não se sabe qual, porque o PMDB tem tantos requebros que se movimenta às vezes “no faz de conta que”, contanto que saia ganhando. Ou se imagina que Renan Calheiros e José Sarney são meninos? Aliás, Sarney anda até afastado.
E também há o presidente da Câmara, Michel Temer, que não nasceu ontem, e anda muito próximo do Palácio do Planalto. Mais do que Renan, que ainda lambe as suas feridas do escândalo que se envolveu com lobista e uma jornalista, misturando filho e infidelidade, além de boi como contrapeso.
Lá que fique porque é problema pessoal seu. Ele conseguiu romper o cerco que lhe foi feito no Senado, até achar o momento certo de retornar à ribalta.
Quando as pernas são postas para o ar junto com a política, não há golpe baixo. O juiz reconhece todos como válidos. E foi assim que o PMDB ajudou, no seu modo manhoso, a CPI da Petrobras, que terá ainda de ser constituída, com presidente, relator e integrantes. O PMDB segura as cartas para jogá-las quando entender que seu cacife aumentou.
A Comissão, se for pela oposição, sai até quinta-feira, mas nunca se sabe. Renan Calheiros quer entregar a Lula a relatoria da CPI, e ele próprio indicaria Romero Jucá, do PMDB lengalenga de Roraima, para tranqüilizar o Palácio. Não é confiante, mas é bom carteiro. Daqueles que não devolve cartas, mesmo com um pitbull no jardim.
Os tucanos, que lutaram pela CPI, vão acabar chupando dedo, assistindo aos profissionais do PMDB bater na mesa e gritarem: “jogo feito”. Passar a mão sobre a roleta e girar a bolinha sabendo em que número cairá. Vai dar preto, 17, como me parece o tango cantado pelo saudoso Nelson Gonçalves.
Aliás, Lula está na Bahia. Que saia daqui com os braços enrolados com fitinhas do Senhor do Bonfim. Bentas. Ele está precisando.
O governador Jaques Wagner pode providenciar porque também usa as suas fitinhas.
Coligação O governador Jaques Wagner é totalmente contrário às coligações proporcionais. Só as entende como corretas para as eleições majoritárias.
E tem razão. As coligações para os Legislativos acabam por eleger parlamentares sem lastro intelectual, sem princípios éticos e sem votos, deixando de fora candidatos que, embora bem votados, não alcançam o quociente eleitoral de partidos coligados.
Seria um ponto importante para uma reforma eleitoral se ela fosse levada a sério e não ficasse apenas nos bastidores do Congresso, para render informações à mídia e desviar enfoques em assuntos importantes para o País. Quando não são meros falatórios de gabinetes estão engavetadas e empoeiradas.
Casar e separar Aliás, o governador voltou a citar uma máxima sobre as relações entre o seu PT e o PMDB que, embora aliançados desde as eleições de 2006 se estranham em relação ao que pode acontecer em 2010, na sucessão. Para ele, “para casar é preciso a vontade de dois; para separar basta a vontade de um”. E, adianta, que se for por ele, os dois partidos continuarão unidos para disputarem juntos as próximas eleições. Mas, também, respeita a vontade da separação, se este for o caso.
Acontece que a política baiana é feita mais com ruídos do que com verdades. E em erupções de bom e de mau humor, com repercussões na periferia da política. Há momentos que a calmaria encontra conforto e tudo fica bem. Basta, no entanto, riscar-se um fósforo para incendiar o cenário e começar o falatório dos políticos na imprensa, que os ouve, porque é da natureza da mídia.
Mas, de certo modo, a máxima de Wagner me parece acertada.
Vontade de dois para casar e vontade de um para separar. Se colocar mais de dois na relação, bem, aí tem outro nome. Aliás, outro, não, outros...
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