sábado, 10 de janeiro de 2009

Salvador recebe novos trens e metrô não fica pronto

Reportagem do Jornal A TARDE mostrando a chegada de mais trens para o nosso metrô em construção.

Eder Luis Santana | A TARDE

Chegam no próximo dia 19 de janeiro os três últimos trens que irão completar a frota de seis veículos do futuro metrô de Salvador. As máquinas irão se juntar às outras que foram entregues no dia 7 de novembro de 2008 e estão depositadas no pátio de uma empresa de logística no Centro Indústrial de Aratu (CIA), em Simões Filho (Grande Salvador).

Desde 1999 a população espera pelo fim das obras do metrô. Agora, com os trens parados e sem uso, a lentidão vira sinônimo de gasto do dinheiro público. Com a chegada das novas composições, subirá de R$ 40 mil para R$ 80 mil o valor pago mensalmente para o aluguel da estadia dos equipamentos.

O custo sai dos cofres da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), que contratou a Estação Aduaneira do Interior (Eadi) para guardar esse patrimônio. Comprados por 50 milhões de dólares (todas as seis composições), o valor da estadia não estava previsto no contrato de aquisição, assinado em 2003.

De acordo com a presidente da Conder, Maria del Carmem, o governo está preparado para assumir o aluguel até maio, podendo, em último caso, estender o prazo até junho deste ano, fazendo o acumulado desembolsado para o aluguel somar R$ 480 mil. Caso a Prefeitura de Salvador volte a adiar a conclusão das obras, terá de ser resolvido onde o sofisticado equipamento será guardado.

“Os trens chegam prontos para funcionar. Só não podemos deixá-los em cima dos trilhos se não estiverem em operação”, disse. Carmem lembra que desde 2003 a prefeitura definiu que as composições deveriam ser produzidas pela empresa coreana Roten, terceirizada da Mitsui. No entanto, três anos depois houve uma transferência de contrato e o governo estadual assumiu a responsabilidade pela aquisição dos veículos.

ESTADIA – Em Simões Filho, os trens ficam em um terreno descoberto, ao lado de centenas de veículos da Ford que se acumulam no pátio até serem levados para fora da Bahia. Ainda envoltas em metros e metros de plástico para amenizar efeitos da chuva e poeira, as composições ficam sob vigilância de 12 câmeras e 28 vigias em esquema de plantão.

Enquanto isso, a prefeitura não tem 100% de certeza se conseguirá entregar a obra até junho, como havia prometido. Segundo o diretor de Planejamento da Companhia de Transporte de Salvador (CTS), Carlos Chamadoira, um novo cronograma de obras será divulgado no dia 15 de janeiro. Até lá, segundo ele, fica impossível estabelecer novos prazos.

A elaboração desse cronograma foi acordado com o Tribunal de Contas da União (TCU), depois do órgão ter encontrado indícios de irregularidade no repasse de verbas ao metrô de Salvador. Em dezembro de 2008, o Consórcio Metrosal (composto pelas empresas responsáveis pela obra) recebeu o prazo para concluir as metas indicadas. “Orientamos para que a Metrosal mantivesse a obra para finalizar em junho”, comentou Chamadoira. Para agilizar os trabalhos, a promessa é contratar novos operários e ampliar o efetivo atual de 380 homens.

Chamadoira admite que não há um Plano B, caso o prazo tenha de ser mais uma vez prorrogado. Porém, adianta que as áreas para estacionamento e manutenção dos trens já estão prontas em um terreno próximo da estação do metrô, no Acesso Norte.

CONSERVAÇÃO – Questionado sobre o fato dos veículos estarem em área não coberta, Chamadoira afirmou que os responsáveis pela fabricação garantiram que isso não é um problema e apenas recomendaram que as composições permanecessem envoltas em plástico e sem contato com o solo.

Com ou sem o desgaste dos veículos, o fato é que o custo do aluguel poderá chegar a R$ 480 mil, caso o espaço em Simões Filho seja utilizado até junho. Para o economista com doutorado em administração pública, Fábio Guedes, o gasto pode ser considerado “improbidade administrativa”. Guedes garante que prorrogar mais a estadia dos trens é sinônimo de mais gastos aos cofres públicos. “É uma irresponsabilidade política. A prefeitura faz má aplicação dos recursos que poderiam ir para outros fins”, concluiu.